quarta-feira, 7 de setembro de 2011

No segundo seguinte tem mais...


Eles se conheceram há mais de trinta anos atrás quando ela disse oi e ele também disse. Pensou que era apenas confusão com outra pessoa, mas o caso é que ele era do tipo que conversa com todo mundo, fila de banco, de ponto de ônibus e de pão eram as preferidas para começar um papo, inventar umas mentirinhas sobre uma vida fenomenal que nunca levou e tal. Tudo de boa intenção, afinal, poderia nunca mais ver aquele indivíduo à sua frente, e imaginação gigante era o seu forte. ela sempre sonhou em perder o medo das pessoas e pensava um dia entrar no metrô e perguntar para a moça bem arrumada qual o creme de cabelo que ela usa, ou comentar que absurdo era a segurança neste país, e os políticos? é uma vergonha o que passou hoje na tevê... Mas como sempre teve medo, achava sempre melhor colocar os fones de ouvido, ler uma revista ou ficar ouvindo conversa alheia desviando o olhar quando percebida. Depois desse oi, no entanto, ela mudou um pouco e passou a puxar conversa com velhinhas e sorrir para crianças, mas ainda não encara nem senta ao lado de homens mais velhos. Ele também mudou, algumas vezes prefere passar a viagem olhando pro rosto dela com olhar de peixe morto, falando no seu ouvido ou lamentando os erros de ontem e hoje. Nenhum dos dois sabe ao certo se mudaram pra melhor ou pior desde àquele dia, se gastaram as horas pensando demais ou se foram muito longe quando entraram na vida um do outro. sabem que foi assim. No segundo seguinte tem mais...