quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Silêncio alegre

Antes de usar qualquer palavra eu clamo pela libertação dela mesma, de algum dia ser silêncio alegre, ser causa e vitória das suas pequenas andanças. Eu quero ser mais do que simples mão que consola ou corrige, quero ser a luz que guia tua corrida nua antes do banho gelado. Quero ser mais do que simples direção, do que simples colher que chega à tua boca, quero ser mais do que o olhar que vela, a boca que pede a repetição da reza, as pernas que ensaiam coreografias, a mão que traz a água para limpar o pincel, mais do que a portadora da cédula que compra os cadernos, quero ser parte tua como és minha, ser mais do que só uma boca que alerta do perigo, que regula tuas passadas, teu véu diante das atrocidades, aquela que vai buscar a lua no livro e folheia os canais até encontrar o que te agrade, quero ser mais do que os dedos que puxam a calcinha da gaveta, mais do que simples gesto que oferece a seringa amarga. Quero ser, antes de tudo, o silêncio que fala nas fotografias, a voz emblemática que te diz um segredo no ouvido e sente a benção da sua respiração a cada instante.