CORAÇÃO ENXUTO
Já escrevi antes que o amor
é óbvio, mas já não me parece tão óbvio assim e construo uma teia novamente, não vinda do mesmo vento, mas
de outro lado, de outro ventre, é o sopro
da saudade que queima e nutre a cada dia uma ponta
de ausência que não quer cessar
de doer, já não procuro mais
retirá-la, ela meio que se instalou e mudou de vez pra minha alma assim como quem invade, sem permissão, sem anunciação, sem nada, só
ficando. Já não me dou ao luxo
de perguntar por que, já não posso, baixo
o olhar e me
vem as tábuas frias da sua
sala de sonho,
que de duras não
tinham nada, eram amolecidas de todo como o teu coração enxuto, que
carrega tudo tão em perfeito equilíbrio que até parece mentira
se tratar de gente humana. Uma ponta
de serenidade e inquietude,
na mesma proporção, guardados para
o uso em momento oportuno. Como podia você saber tão bem quando lançar mão de cada um assim tão naturalmente, como mãe sabe o que
significa cada choro do filho? Como podia você saber distinguir quando uma gargalhada
escondia angústia ou era só gargalhada mesmo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário