terça-feira, 8 de julho de 2014

AS GUARDADAS

Ele tinha um lugar especial para guardá-las. Ninguém mexia. Escondido. Era seu esconderijo secreto.. Às vezes escolhia as mais bonitas e coloridas para serem levadas a passeio. Desvendava-lhes os códigos e aparava as arestas. E tchau, não olhava mais para a cara delas. Fim. As guardadas também não procurava muito. Elas lhe faziam mal. Era melhor passear com os filhos no parque. Elas não ligavam mais, pois não tinha mais telefone. Aparelho inoportuno! A mulher achou esquisita aquela decisão, mas respeitou. Ele só não contava que dentre os achados e perdidos as tais fossem resgatadas logo por quem. Abriu a porta quando marido  não estava em casa e finalmente as encontrou. Estavam todas lá, imóveis. A maioria branca porque nas  coloridas ele já tinha dado fim. Ela não acreditou. Fez as malas e colocou na porta. Assim já era demais. Escondê-las todas, assim, sem piedade? Qualquer mulher jamais perdoaria! Imaginou que a sogra era cúmplice. Como só ela não pôde perceber? Levou-as para fora. Sem dó lhes banhou a álcool e ateou fogo. Só restaram cinzas. De algumas ela ainda ousou fitar-lhe as bordas e encontrou a data de vencimento: dezembro do ano passado. Era o fim da picada.

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