domingo, 28 de dezembro de 2014

FOLHA NOVA

Escrever um livro é como gerar um filho. Primeiro a gente deseja, espera, anuncia. Só depois gesta. E este construir dentro da gente não é nada fácil. É uma tarefa sofrida deixar brotar de dentro de nós a palavra dura e ficar acrescentando água até ela ficar molenga e instalar-se inteira, tomando a forma de letra na página branca. Ninguém disse que seria fácil. Inclui apagar, revisar, dar para o colega ler, digitar, ajeitar na folha, ler em voz alta pra testar o som da palavra, e depois voltar, apagar de novo, e voltar, ler de novo... E depois desta luta de vir a ser, os textos se colam um no outro feito luva na mão e tomam a unidade de obra. Mas após assumir a ideia de ser livro ele precisa se fazer objeto concreto na mão do leitor. E aí travamos uma outra luta. Arrecadar dinheiro, fazer a capa, negociar com a editora, discutir prazos e preços. É a parte prática de ser livro. Mas no final disso tudo... Ele se encontra ali, na nossa mão, enquanto folha nova que brota da árvore... É um momento mágico. Como aquele em que a mãe fita pela primeira vez o seu rebento e não consegue segurar a emoção. 

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